Aproximar a pesquisa acadêmica feita no país da experiência internacional é um objetivo prioritário para a comunidade científica, já que esse diálogo traz muitas vantagens para os dois lados. A aproximação requer planejamento e esforço mas é perfeitamente possível, como mostra a trajetória recente de Keylla Bicalho, pós-doutoranda do Departamento de Química Orgânica do Instituto de Química da UNESP de Araraquara.
A Bolsa Estágio de Pesquisa no Exterior, concedida pela FAPESP, em 2017, foi resultado de um planejamento cuidadoso que analisou centros de pesquisa internacionais com foco no trabalho que realiza, dedicado a engenharia metabólica. Essa avaliação levou-a a localizar o Instituto de Biotecnologia de Flanders, na Bélgica, como lugar ideal para ampliar o escopo do pós-doutoramento. Este seria o segundo período no exterior, depois do estágio na Universidade de Southampton, na Inglaterra, em 2013.
O passo seguinte foi a elaboração de um projeto de pesquisa, baseado na revisão da literatura produzida pelo grupo de Flanders. Acompanhado de uma mensagem de contato, o projeto foi enviado por e-mail para o professor Alain Goossens, líder do grupo, que propôs uma entrevista com ela, feita através do Skype. “Eles responderam rápido”, lembra.
Dois anos após essa iniciativa, e depois de ter aceito o convite para tornar-se pesquisadora no núcleo de metabolômica do Instituto belga, Keylla avalia o cenário de internacionalização da pesquisa, do ponto de vista de uma cientista brasileira. Primeiro, observa, “é preciso ter coragem”, e lembra que nem sempre existe disposição dos mestrandos e doutorandos de buscar o caminho do exterior, embora ele seja fundamental para ampliar os horizontes do pesquisador. Mas nota, também, que essa ousadia deve ser estimulada por orientadores e professores pois tal apoio é muito relevante para quem está ingressando na vida profissional.
Com base em sua experiência, Keylla constata também que o trabalho de pesquisa realizado no Brasil ainda é desconhecido pelos centros internacionais. No seu caso, o conhecimento adquirido no doutorado com a pesquisa sobre metabolômica, era algo que se encaixava totalmente nas necessidades do Instituto de Biotecnologia de Flanders. Mas isso só se tornou claro depois do movimento de aproximação que realizou.
Outro fator decisivo é o apoio financeiro das agências de fomento, no seu caso a FAPESP, pois esse apoio não partiria da instituição belga que a acolheu.
Internacionalização da Pesquisa em Projetos em Rede
A consolidação do processo de internacionalização da pesquisa ainda enfrenta desafios. Grupos de Pesquisa consolidados já demonstram atividades em resposta a tal processo e programas de cooperação internacional. Especialmente quando se trata de projetos em rede como o INCTBIONAT, são cruciais para a qualificação das pesquisas e da produção científica o estímulo à vinda de pesquisadores internacionais, intercâmbio de estudantes, de pós-doutorandos e docentes/pesquisadores.
As atividades de internacionalização quando alicerçadas por programas sólidos de cooperação participam ativamente do desenvolvimento de projetos transversais, incentivando também a interdisciplinaridade, outro desafio importante para a construção de um novo conhecimento, influenciando a formação de recursos humanos autônomos e criativos e no impacto da produção científica.
Outro aspecto importante e que representa desafio é a interlocução frequente entre os grupos de pesquisa participantes da rede. Seminários de discussão sobre a evolução, as aptidões e principais dificuldades dos grupos de pesquisa devem ocupar a agenda de atividades de um Instituto dessa magnitude, principalmente quanto as atividades e agendas de pesquisadores visitantes internacionais. Seminários, cursos e disciplinas ministrados por pesquisadores qualificados do exterior, especialmente em temas de fronteira, poderiam ser compartilhados, introduzindo capacitação e inovação a formação acadêmica dos alunos de IC e PG, além de pós-doutorandos.
Avaliação multidimensional e o impacto nos projetos em rede
Maysa Furlan*
Historicamente, as avaliações das atividades de pesquisa sempre foram realizadas pelos pares com a utilização de métricas. Nesse processo, as bases de dados especializadas que alimentam as métricas, historicamente evoluíram e foram lançadas plataformas integradas que tornaram os bancos de dados totalmente acessíveis, disponibilizando bases valiosas para o estabelecimento de métricas quantitativas. Se antes de 2000 somente existia o Science Citation Index (Institute for scientific Information (ISI)) em CD-ROM como banco de dados, a partir de 2000, mais precisamente no período de 2002 a 2004 a Thomson Reuters lançou o Web of Science, a Elsevier o Scopus e a Google, o Google Scholar.
Com isso, ferramentas que podem facilmente comparar a produtividade e impacto da pesquisa institucional foram desenvolvidas e o InCites que utiliza o banco da Web of Science, o SciVal da Scopus e o software que permite analisar os perfis de citações individuais usando o Google Scholar são realidade. Evolutivamente, em 2005 o físico Jorge Hirsch, da Universidade da Califórnia, propôs o h-index que permite contabilizar as citações de pesquisadores individualmente, corroborando a reflexão sobre o fator de impacto dos periódicos científicos.
Atualmente, a ciência brasileira evoluiu tanto do ponto de vista quantitativo como qualitativo e a questão que emerge é como a avaliação quantitativa pode trazer subsídios a avaliação qualitativa e de impacto social. Essa nova versão está fortemente presente nos objetivos e avaliação dos projetos em rede como os INCTs, nos quais uma avaliação multidimensional está presente nos diferentes aspectos como internacionalização, produção de conhecimento, inovação, transferência de conhecimento, além de impacto, relevância econômica e difusão para a sociedade. Nesse contexto multidimensional a análise qualitativa é mais precisa e deve favorecer modelos nos quais os impactos científicos possam influenciar a realidade econômica regional e local, de forma a transformar a sociedade.
* Maysa Furlan é Professora Titular do Instituto de Química da UNESP-Araraquara.
7th Brazilian Conference on Natural Products and XXXIII RESEM
Marco destacado na agenda da comunidade científica que trabalha com produtos naturais, a Brazilian Conference On Natural Products realizará sua sétima edição, em 2019, no Instituto Militar de Engenharia, IME, no Rio de Janeiro, de 10 a 13 de novembro. O evento trará este ano 12 pesquisadores internacionais e 23 brasileiros como palestrantes de sua programação que inclui conferências, cursos, debates e apresentações de pôsteres. Veja aqui a grade de programação da 7th Brazilian Conference on Natural Products and XXXIII RESEM.