Criar empresas inovadoras a partir da pesquisa feita na universidade é uma atividade difícil em todo o mundo pois enfrenta um alto grau de incerteza. O aspirante a empresário, dizem os especialistas, deve ser criativo, persistente e ter resistência ao fracasso. Mas a realidade mostra ser possível alcançar sucesso nessa empreitada e, mais ainda, é possível transformar a pesquisa sobre a biodiversidade brasileira em produtos e serviços inovadores.
Exemplos podem ser vistos no ciclo de webinários promovido pelo programa Biota, da Fapesp, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Com três encontros virtuais programados para 2021, o projeto Biodiversidade e Empreendedorismo teve sua primeira apresentação dia 28 de setembro com o tema Biodiversidade e a Indústria de Cosméticos.
O webinário virtual foi organizado e apresentado pelas professoras Vanderlan Bolzani, do Instituto de Química da Unesp de Araraquara, e Letícia Lotufo, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, integrantes da coordenação do Biota-Fapesp.
Veja aqui a programação do 2º e 3º webinários sobre Controle Biológico na Agricultura e Serviços Ecossistêmicos, respectivamente https://fapesp.br/15077/ciclo-de-webinarios-biota-empreendedorismo
Empresas nascentes
Lychnoflora e BioSmart, nascidas a partir da pesquisa com produtos naturais, descreveram suas experiências na primeira sessão revelando vários pontos comuns em seus perfis. A começar pela localização na vigorosa economia do interior do Estado de São Paulo, em Ribeirão Preto (Lychnoflora) e Araraquara (BioSmart).
As duas se beneficiaram de um ecossistema universitário que estimula empresas nascentes, que dispõe de estruturas de apoio como incubadoras e parques tecnológicos e oferece um ambiente propício à troca de ideias no campo tecnológico, o chamado networking. Ambas se desenvolveram a partir de recursos de projetos aprovados pela Fapesp e por agências federais.
Thais Guaratini, uma dos quatro sócios da Lychnoflora, lembra que o início se deu em um cenário de muito incentivo à inovação e empreendedorismo, oferecido pela academia e por agentes governamentais. A Lychnoflora atraiu clientes em outros laboratórios da Universidade, em indústrias farmacêuticas e de cosméticos oferecendo serviços de pesquisa e desenvolvimento em produtos naturais e sintéticos que lhe permitiram construir uma identidade. A Lei de Inovação contribuiu para estimular o setor privado a aderir ao modelo de inovação aberta, observa.
Os primeiros passos foram a identificação de ativos naturais para a indústria de cosméticos e um medicamento para leishmaniose, que chegou até a fase de ensaios clínicos.
Guaratini marca o ano de 2013 como o momento em que a receita da Lychnoflora, resultante da atuação comercial da empresa, começa a superar os recursos de projetos ligados às agências de fomento, Fapesp, Finep e CNPq. Ela passa então a caminhar de forma mais autônoma, lembra, e alcança uma nova etapa com a construção de uma planta industrial par produção extratos vegetais padronizados.
Firma-se como uma prestadora de serviços em conhecimento intensivo de técnicas laboratoriais de análise respondendo a um mercado que tem grande necessidade desse tipo de especialização. O processo assegurou o crescimento contínuo da Lychnoflora que hoje entra em uma nova fase: começa a construção de um prédio para suas instalações no parque tecnológico Supera Parque, de Ribeirão Preto, que vai abrigar seus 25 funcionários.
Um projeto importante da BioSmart é o desenvolvimento de uma nova rota para produção do ácido hialurônico, buscando obtê-lo com o reaproveitamento das cascas de ovo.
A existência de um ecossistema como fonte de ideias e iniciativas foi decisiva para criação da BioSmart Nano, na UNESP, em 2016, dedicada à produção de biopolímeros, explica a CEO da empresa Hélida Barud. Trabalhando com o conceito de economia circular, a BioSmart produz biopolímeros como filmes plásticos para embalagens degradáveis ou comestíveis, por exemplo, com o aproveitamento de descartes de alimentos. Esses filmes apresentam propriedades antioxidantes e aumentam a conservação dos alimentos e hoje estão sob avaliação da Anvisa para chegarem ao mercado.
Formada em odontologia, Barud relata que a ideia de criar a empresa surgiu de inúmeras conversas com colegas da Universidade em busca de um caminho para empreender. As reuniões em cafés da manhã nas padarias acabaram por aglutinar um grupo que ganhou o nome de Café com Ciência e reúne agora mais de cem pessoas para a troca de experiências, sugestões, relatos de sucessos e fracassos.
Um projeto importante da BioSmart é o desenvolvimento de uma nova rota para produção do ácido hialurônico, buscando obtê-lo com o reaproveitamento das cascas de ovo. O ácido hialurônico é um insumo de alto valor agregado com larga aplicação da indústria de cosméticos mas que, com diferentes formlações encontra aplicações na medicina e odontologia como preenchimentos faciais, enxertos ou implantes.
Em 2020, a BioSmart passou a ter participação acionária do grupo empresarial Seven, de Londrina-PR
O 1º Webinário Biodiversidade e Indústria de Cosméticos teve a participação da professora Luciana Hashiba, da Coordenação-Adjunta de Pesquisa para Inovação Fapesp; do professor José Fernando Perez, diretor-presidente da Recepta Biopharma e ex-diretor científico da Fapesp em cuja gestão foi criado o programa Biota; do professor Carlos Joly, membro da Coordenação do Programa Biota-BIOprospecTA e de Paulo Castilho, da área de Inovação da Natura.
Veja aqui o vídeo do 1º webinário.