Pesquisa do ICET, no Amazonas, busca substâncias ativas contra dengue, em parceria do INCT BioNat

Pesquisa do ICET, no Amazonas, busca substâncias ativas contra dengue, em parceria do INCT BioNat

Itacoatiara, ou “Ita”, como dizem alguns de seus habitantes, está localizada a cerca de 270 quilômetros de Manaus (AM). Polo importante da agropecuária, terceira cidade do Estado em população, desde 2007 conta com o ICET, Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia, que integra o campus local da UFAM, Universidade Federal do Amazonas.

Inserido no médio Amazonas, o Instituto tem como um de seus compromissos o estudo da biodiversidade regional, tarefa que vem ganhando corpo nos últimos anos.

Camila Martins de Oliveira, docente e pesquisadora do ICET, é uma das pioneiras na  pesquisa com produtos microrganismos endofiticos no Instituto. Hoje esse trabalho consiste em isolar e testar substâncias que  atuem contra o mosquito Aedes Aegypit, vetor da dengue.

“O objetivo é encontrar um novo produto, eficaz contra os mosquitos adultos e contra as larvas, e que não agrida o meio ambiente”, explica.

Iniciada em 2011, quando ela ingressou na UFAM, a pesquisa está na fase de testes biológicos, e abrange agora a avaliação das substâncias isoladas, também contra malária, chikungunya e zika.

Ampliar a área de alcance desse trabalho foi uma evolução natural, e tornou-se possível  graças à sua inserção no INCT, Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, BioNat, Biodiversidade e Produtos Naturais. Além de recursos financeiros, a integração com o INCT permitiu a troca de experiência com outros pesquisadores, e “a possibilidade de alunos daqui poderem visitar e fazerem parte de suas pesquisas em outras instituições reconhecidas internacionalmente, o que é fundamental para a formação deles”, observa. O INCT tem, ao mesmo tempo, uma estrutura de apoio, preparada para identificar produtos patenteáveis e economicamente viáveis.

Paulista de Ribeirão Preto, com Licenciatura em  Química, Camila chegou à UFAM através de concurso. Seu currículo relaciona mestrado, doutorado e pós-doutorado na área de Química Orgânica e uma linha de pesquisa já consolidada em produtos naturais.

Na época, praticamente não havia pesquisa em produtos naturais neste campus da Universidade, recorda. “Eu queria fazer alguma coisa já que praticamente dava aula dentro da floresta mais rica em biodiversidade do mundo”.

Com dois projetos aprovados, da FAPEAM e do CNPq, Camila reformou um laboratório antigo e montou uma equipe de quatro alunos. No foco de sua atenção estava a pesquisa com fungos endofíticos. Os micro-organismos que vivem no interior das plantas e que, por suas características bioquímicas, apresentam interesse particular para a farmacologia, já tinham sido objeto de trabalho da pesquisadora em sua tese de doutorado.

A escolha da erva de passarinho, planta amplamente utilizada na medicina regional do Amazonas e, no caso, “hospedeira” do fungo endofítico, mostrou-se um caminho promissor. Mas era preciso avançar além da formulação dos extratos dos fungos, tarefa para a qual o laboratório estava aparelhado. Assim, o próximo passo foi a parceria com o INPA, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, e com o professor Wanderli Pedro Tadei, coordenador do Laboratório de Malária e Dengue, onde passaram a ser feitos os ensaios larvicidas.

Hoje, a sequência do trabalho passa pela obtenção dos extratos dos fungos, ensaios larvicidas e seleção dos agentes mais promissores. Em seguida são selecionadas substâncias desses “candidatos” para serem purificadas e testadas novamente nas larvas.

A evolução da Química de Produtos Naturais nas últimas décadas levou ao conhecimento  de alguns campos de estudo onde a pesquisa tem indícios para encontrar agentes bioquímicos e substâncias que exibem funções específicas para determinados fins. Entre eles está o estudo dos metabólitos secundários, componentes do metabolismo das plantas que, sem exercerem as funções primárias (como o crescimento), atuam de forma auxiliar em sua sobrevivência, como a proteção contra predadores, por exemplo. Esses complexos bioquímicos já foram “fabricados” pela natureza e são de grande interesse farmacológico.

A pesquisa de Camila Martins realizada no ICET volta-se hoje para os metabólitos secundários dos fungos endofíticos encontrados na erva de passarinho, a partir do que a literatura científica já registrou, mas, também, com base no conhecimento tradicional, às vezes milenarmente acumulado.

Reportagem: Carlos Martins

QUEM SOMOS

O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biodiversidade e Produtos Naturais (INCT-BioNat) é uma rede de pesquisas interdisciplinares voltadas para a química de produtos naturais da biodiversidade brasileira. Essa rede é formada por 50 pesquisadores pertencentes a 16 universidades brasileiras e 2 Institutos. (veja mais informações aqui)

Os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia são centros de pesquisa criados em 2008 no âmbito do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação, que reúnem pesquisadores brasileiros e do exterior com o objetivo de mobilizar e agregar, de forma articulada, os grupos de excelência em áreas de fronteira da ciência e em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável do país (veja mais informações aqui).