UFPI: a riqueza do cerrado está na pesquisa da diversidade biológica

UFPI: a riqueza do cerrado está na pesquisa da diversidade biológica

Há muitas razões para os cientistas estudarem a vegetação e os animais do cerrado. O bioma ocupa quase um quarto do território brasileiro e tem características únicas, exibindo uma grande variedade de espécies. Nesse universo, há muitas perguntas a serem feitas. Como explicar, por exemplo, a resistência de algumas plantas que superam condições bastante adversas, como a falta de água e nutrientes do solo, o ataque de predadores e as queimadas espontâneas, que destroem as folhas – as quais se recuperam rapidamente?

Para dar respostas a essas adversidades a natureza realiza sofisticadas reações químicas, bioquímicas e processos ecológicos de adaptação. Compreender tais processos significa, em tese, conseguir reproduzi-los para utilizá-los em proveito humano. Mas, para isso, é necessário, primeiro, entender esses mecanismos. O início do trabalho tem, em geral, um ponto de partida comum, que é a extração e isolamento das substâncias para, em seguida, se estabelecer sua determinação estrutural. É a parte experimental da investigação, conhecida como fitoquímica.

Essa é uma das áreas de atuação do Laboratório de Produtos Naturais, LPN, do Departamento de Química da Universidade Federal do Piauí, UFPI, coordenado pela pesquisadora Mariana Helena Chaves. Criado no início dos anos 2000, o LPN relaciona algumas dezenas de plantas já classificadas e estudadas. Não somente do cerrado mas também da área de transição entre o Cerrado e a Amazônia na região Meio Norte (Piauí-Maranhão).

Uma das bases para escolha dessas espécies é o conhecimento tradicional das populações locais e o uso medicinal que elas fazem de determinadas plantas. Mais recentemente, o LPN dedica-se também ao estudo de venenos de sapos.

“Os cerrados são guardiões extraordinários da biodiversidade”, nota Mariana Helena Chaves. “Apresentam uma flora muito rica, em grande parte desconhecida e com muitos problemas taxonômicos (de classificação) a serem resolvidos”.

Embora o Piauí concentre apenas 6% do cerrado brasileiro, essa área corresponde a 47% da vegetação do Estado. Em sua totalidade, estima-se que o cerrado abrigue cerca de 10 mil espécies vegetais, sendo 40% delas nativas do bioma, isto é, endêmicas. “São bancos gênicos de muito valor e que merecem ter importância maior do que apenas produzir carvão e servir de enormes áreas de cultivo e de atividade agropecuária. Acredito que estudando-se plantas de uso geral e medicinais, poderemos contribuir para agregar valor econômico às espécies e preservar este bioma”, diz a pesquisadora.

Além da fitoquímica, o LPN atua também em outras etapas, investigando propriedades antioxidantes de extratos, frações e compostos isolados.

A pesquisa com o veneno dos sapos é recente, foi iniciada há três anos, e mostra resultados promissores, afirma o Gerardo Magela, pesquisador do LPN.

Mariana Helena Chaves e Gerardo Magela integram o INCT Biodiversidade e Produtos Naturais. A relação expande a área de alcance do Instituto e, ao mesmo tempo, apoia as pesquisas do LPN.

Hoje existe uma ampla literatura científica sobre venenos dos sapos, explica, e, em alguns locais, como na China, esses produtos naturais são vendidos como medicamento.

Os venenos de três espécies de sapo estão sendo pesquisados: Rhaebo guttatus, Rhinella marina e Rhinella jimi, os dois últimos conhecidos popularmente como sapo cururu. Compostos extraídos desse material são submetidos a testes in vitro, para avaliação de sua atividade citotóxica, com bons resultados frente a linhagens de células tumorais de câncer de colo, carcinoma de ovário, glioblastoma e leucemia, informa. Outro alvo contra o qual esses venenos se mostram promissores é o protozoário Plasmodium falciparum, vetor da malária. Em uma próxima etapa, a pesquisa se dedicará a isolar e purificar as substâncias reconhecidas como ativas.

Gerardo Magela – LPN/UFPI

Nos últimos anos, o LPN construiu parcerias com colegas de várias áreas de especialização, na própria UFPI , e com outras instituições, entre elas a Universidade Federal do Ceará, UFC, e a Faculdade de Odontologia de Araçatuba/UNESP. As colaborações moldam uma “divisão de trabalho” especializado e abrem o leque de possibilidades para testar compostos isolados quanto à capacidade bioativa, como propriedades anti-inflamatória, antimicrobiana, entre outras.

Mariana Helena Chaves e Gerardo Magela integram o INCT Biodiversidade e Produtos Naturais. A relação expande a área de alcance do Instituto e, ao mesmo tempo, apoia as pesquisas do LPN. “Eu vejo com muito otimismo o trabalho em rede, uma vez que é difícil, e acredito que no futuro se tornará ainda mais, captar recursos expressivos individualmente”, analisa Mariana Helena. A participação no INCT, através de estágios para os alunos do LPN, contempla também uma atividade que lhe é particularmente cara, à qual ela tem se dedicado com afinco nos últimos 20 anos: formar docentes e pesquisadores que atuem como multiplicadores do conhecimento.

Reportagem: Carlos Martins – Fotos: Cibelle Resende/SCS/UFPI

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O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biodiversidade e Produtos Naturais (INCT-BioNat) é uma rede de pesquisas interdisciplinares voltadas para a química de produtos naturais da biodiversidade brasileira. Essa rede é formada por 50 pesquisadores pertencentes a 16 universidades brasileiras e 2 Institutos. (veja mais informações aqui)

Os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia são centros de pesquisa criados em 2008 no âmbito do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação, que reúnem pesquisadores brasileiros e do exterior com o objetivo de mobilizar e agregar, de forma articulada, os grupos de excelência em áreas de fronteira da ciência e em áreas estratégicas para o desenvolvimento sustentável do país (veja mais informações aqui).